Dicas para realizar uma escuta acolhedora no ambiente escolar
29/01/2016 às 11:00 am | Gestão
Ilustração: Shutterstock
Chegamos ao centésimo post, acreditam? Pensando nesse percurso e na maneira como vocês, leitores, sempre acolhem tão bem nossas reflexões, escolhi tratar sobre algo imprescindível para a construção e manutenção de relações saudáveis e respeitosas: o espaço de escuta no ambiente escolar.
Em primeiro lugar, é preciso fazer uma distinção simples e importantíssima entre a ação de ouvir e a de escutar. Ouvir é uma condição fisiológica de todos, desde que não haja comprometimento do órgão sensorial responsável por essa função. Sendo assim, mesmo que não queiramos escutar algo, tampando as orelhas com as mãos, por exemplo, estaremos expostos aos diferentes sons e ruídos que nos rodeiam. O que significa, inclusive, que quando um aluno fala um palavrão e justifica que ele foi endereçado a apenas uma pessoa, podemos lembrá-lo de que mesmo sem querer, quem estava ao seu redor foi obrigado a ouvir o que não queria.
Por outro lado, escutar exige que nossas atenções se voltem àquele que fala e, assim, nos permitedar “significado próprio e singular” ao que é falado. Ao escutarmos – o professor, a família ou o aluno –, acolhemos sentimentos velados sem que tenhamos, necessariamente, que concordar ou opinar sobre o conteúdo compartilhado.
Uma escuta respeitosa e acolhedora pode, muitas vezes, provocar o alívio nas tensões e angústias do interlocutor. Tais efeitos são positivos para que a confiança e o respeito pautem as relações profissionais e pessoais.
Mas escutar nem sempre é fácil! O ato exige características que nem sempre estão presentes na comunicação interpessoal, entre as quais:
Demonstrar interesse por quem fala, afinal todos nós gostamos de nos sentir reconhecidos e acolhidos;
Colocar-se no lugar do outro, ou seja, exercitar a empatia tão necessária e muitas vezes escassa nas relações sociais;
Estruturar e organizar as mensagens do emissor;
Clarear ideias confusas e, muitas vezes, carregadas de julgamentos;
Refletir, principalmente, sobre quais sentimentos estão por trás das palavras; e
Ter objetividade, já que a falta dela compromete o entendimento do que se deseja comunicar.
Outras dicas são fixar o olhar em quem está falando, de preferência mirando os lábios; inclinar-se ligeiramente em direção à pessoa, de maneira que a linguagem verbal possa ser coerente com o interesse demonstrado; não deixar que o interlocutor fale demais, o que significa retomar o foco quando necessário e; concordar com a cabeça e com expressões breves como: “aham”, “hum” e “continue…”, de maneira a passar segurança e confiança para que o outro continue a se expressar.
Por fim, também é importante retomar com as próprias palavras o que está sendo dito por cada uma das partes, de maneira a identificar as posições de cada parte envolvida na conversa. Este exercício auxilia na compreensão e no reconhecimento do que está se falando. Essa retomada, à qual chamo de paráfrase, inicia-se com frases do tipo: “Veja se entendi o que você acabou de me dizer…”, “Me corrija se eu estiver errado: o que você deseja é…”, “Se eu entendi bem, o que você disse é…”. Com base nessas introduções, os julgamentos presentes na fala devem ser transformados em observações ou descrições do fato em si. Vamos a um exemplo: um professor, sentindo-se angustiado com as atitudes da turma, desabafa com o orientador: “Essa classe é insuportável. Todos os dias essa bagunça. Não ouvem, não se importam com nada e nem respeitam ninguém! Depois, no conselho de classe, querem que eu fabrique uma nota!”. O orientador, por sua vez, faz uma escuta acolhedora e utilizando-se da paráfrase, devolve: “Se estou entendendo bem, você está me dizendo que tem alunos da turma que não estão cumprindo suas tarefas, nem participando da aula de forma positiva. Sua preocupação é que com esse desempenho, eles fiquem sem nota, é isso? Estou certo?”.
Valendo-se desse tipo de recurso, a fala do orientador se transforma em um modelo de acolhimento e de postura respeitosa para os demais. Assim, cada vez menos, julgamento e linguagem valorativa estarão presentes e dispararão situações de conflito. Afinal, na maioria das vezes, não é o conteúdo do que se fala que ofende, mas sim a forma.
Esses apontamentos parecem simples e óbvios, mas, seguramente, não são! Por isso, a escuta acolhedora deve ser praticada para que seja internalizada.
Fonte:http://gestaoescolar.abril.com.br/blogs/aluno-em-foco/2016/01/29/dicas-para-realizar-uma-escuta-acolhedora-no-ambiente-escolar/
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